Arrependimento Penitenciário
o amago prisioneiro definha pelo arrependimento libertário
2023
Pelos vistos, como todos, sou hipócrita
Por não vos dizer em vida o que sinto
E apenas no memorial isso será dito
Com lágrimas de dor, que vos amo,
E quão grato estou por vos ter tido.
Essa despedida será ferida de angústia
E sobretudo, ácido arrependimento,
Por não vos ter mostrado o amor
Tão forte e genuíno que vos tenho
E apenas ter vivido na indiferença.
E algo também me mata agora
O meu coração morre por vos ver sós
E por ver essa solidão, desculpem,
Não consigo ser mais presente,
Estou impotente de vos alegrar,
A mágoa escorre em lágrimas.
Vocês deram tudo de vocês por nós
Casa passo, cada gota de suor
Em troca da nossa felicidade,
Nem pela gratidão esperavam
E era o que podíamos ter dado.
Queria eu que não fosse assim
E nos abraçássemos felizes em vida
Declarando como nos amamos,
Mas só conseguirei dizer tudo isto
Quando já não puderem ouvir.
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2022
É tão impotente este meu pedido
Porque aos teus olhos sou um louco,
E aos teus ouvidos são falas de louco,
Mas sou um louco arrependido...
Todos cometem erros, pequenos, graves,
Mas será que não há perdão?
Será que haverá sempre o limbo da dúvida?
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Não há cura para o erro
Apenas o lamento lento
Que enrola o estômago
Enfraquece em tristeza
E derrama em lágrimas
A dor do erro passado.
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Lamento muito
E não sei porquê
Apenas sinto,
E por isso,
Estou de castigo
Na cadeira da tristeza,
E sou punido
Com palmadas de
Arrependimento.
Já escrevi 100x
"Desculpa",
E algumas saíram mal.
Por fim, virado para
A parede da angústia,
Repito 1.000x"
Lamento muito".
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Espero ganhar de novo a tua confiança,
Eu fui cruel irracional e assassinei-a...
Não tinha o direito, e fui a tribunal sem defesa,
Declaro-me culpado e não ouço a acusação,
Nunca tinha acontecido e aconteceu,
Mas sem desculpa, cumpro a pena,
Se me ouvires entre as grandes, eu clamo,
Não um canto mas uma lamúria,
E lamento o que fiz;
Espero que um dia me visites na cárcere da consciência,
E me perdoes, e esqueças.
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Tenho o breve sonho de um dia,
Me perdoares e me ofereceres
Uma segunda oportunidade.
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Não que eu seja uma má pessoa
Mas preciso ser desculpado
Pelo crime que fiz, eu sou o juiz
E eu mesmo declaro-me culpado!
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E se as desculpas fossem alguém
Seria eu,
E se o arrependimento se personificasse,
Eu seria o escolhido.
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As lágrimas com grilhões
Estavam presas em celas,
Mas foram transferidas
Para solitárias, agora sós
Escorrem entre o silêncio.
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A chama na lama reluz as sombras sujas
E só de vez em vez ilumina toda a escuridão,
Para mim basta e é suficiente,
Quero morrer sem ter o total conhecimento
De onde estou e qual a condenação.
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O meu coração condena-me, acusa-me,
E denuncia...
Numa penitenciária habito,
Tentar escapar evito
Pois sei o que foi decidido
Foi bem decidido.
E a prisão é o meu lugar.
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Serei devastado pela lamentação
Por muito que fuja ou até que ore,
Então, venha a morte sem perdão,
Mas que seja breve e não demore!
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Será que realmente matei alguém?
De facto, sinto-me como se tivesse feito,
A amargura é insuportável, existe
A dor inexplicável de ver alguém partir.
Faço um funeral privado por respeito
E em memória do que não voltará.
Talvez tenha mesmo assassinado
E agora desespero, o que fui fazer?
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O meu lamento é longo
E lento o meu perdão,
São dias sangrentos
Sendo ferido pela solidão,
Não me perdoo pelo erro
E cada vez que penso, choro,
Sou rápido a criticar-me
E a julgar-me, não demoro,
Queria ver de novo a vítima,
E pela décima milésima vez,
Lamentar como fosse a primeira.
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O que eu lamento, tenho escrito,
E em capítulos e versículos leio:
Uma nota redigida a ti com lenços
Lamento te ter desiludido e choro,
Limpo com a mão a cara, tristeza,
Das lágrimas escorridas da pena.
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