Crimes de Amor
quando a fatal arma é amar
2023
Eu gostava que fosses julgada pelos teus crimes
Em vergonha, sentada no banco do réu.
Quantas lágrimas já deitaste falsamente?
Agora, estás proibida de olhar para o céu
E pedir ajuda piedosa, pois és criminosa,
Algemada, pois és perigosa, não confiável,
Língua melindrosa, olhos cínicos, alma cruel.
Fui volátil aos teus crimes hediondos,
Fui enganado e sinto-me explorado,
Tu exploraste toda a minha bondade
Espremeste até não haver mais gota,
Fui esmorrado, esquartejado, esfaqueado,
E no fim, baleado com desprezo.
Apenas sobrevivi pela compaixão:
Reversa energética do meu corpo.
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Eu amo-te e tudo gira à tua volta
Como uma cabeça oca,
E o que mais me magoa:
"Vais ser intenso até deixares de ser"
Porque gostas de me magoar?
Ao menos ama-me e depois magoa,
Sou um pouco masoquista
E se fazes isso pela conquista
Eu aceito e suporto.
Mas agora, o meu encéfalo ecoa
Com cada passo que dou sozinho,
O salão de festos fechou
Já não há ninguém que beba vinho!
E eu só queria a tua empática empatia
E ao teu corpo estar junto, quentinho,
Eu queria ver os meus pássaros a voar
Mas todos eles estão no teu triste ninho.
Talvez sozinho este vazio não se encha
E somente se encha com o teu carinho,
Então que haja uma eterna união
Se não, sentir-me-ei sempre sozinho.
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Serei o único a peregrinar pelo caminho da angustia?
Serei o único em que o sofrimento é lamentável?
Será que sou o único que se ajoelha no aperto
E derrama o fluído sanguíneo no desgosto?
Porque me fizeste sofrer tanto, meu amor?
Porque apareceste com todas as respostas
E deixaste-me com todas as tuas dúvidas?
Agora há palitos no meu peito, choro solitário.
O que é isto que me aleija todas as horas?
Porque sofro com algo que não existe?
Porque a tua ausência me adoece fatalmente,
Porque estou acamado e ainda triste?
Por ti… de ti saem estes sintomas nefastos,
De ti para mim - chegou agora dos correios,
Uma encomenda não encomendada
Um veneno bioquímico que me mata pelo ar.
E sabes o que faço sabendo isso?
Respeitar fundo esse cheiro fatal!
Porquê? Porque quero viver, mas,
Se for para morrer, que morra de ti!
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Para ti escrevo a última marcha fúnebre:
Mais uma vez eu predispus-me ao amor
Devido ao teu regresso tão certo
Devido ao teu galopar tão apressado.
E galopaste comigo até ao teu deserto
Mostraste-me o calor, o fervor, a fúria,
Acampei de noite olhando as estrelas
Não trocamos apenas uma frase única
Mas elaborámos um vasto guião,
Fizeste-me sentir em casa e eu aceitei.
No dia seguinte acordo, e tu não estavas
Fugiste e já não levarias de volta,
Fiquei lá onde me deixaste, perdido,
A desfalecer pelas altas temperaturas,
Não estando preparado para a realidade…
Choro em silêncio com soluços cansados,
E sei que choro porque eu amava-te,
E tinhas-me na mão e abriste-a sem dó
Deixaste todos os grãos do meu eu caírem
Agora estou espalhado pelo deserto
Pedindo socorro a quem me possa ouvir.
Contudo, no meio do temporal noturno
Eu vejo as estrelas e lembro-me de ti…
Sim, eu deveria odiar-te neste momento
Mas eu continuo a amar-te,
E isto só pode ser explicado assim:
Ao longo dos anos a madurez matura
E de facto, passamos a escolher amar
Não amamos qualquer um porque sim
E quando o amor falha não o maltratamos,
Amor é mais do que paixão que passa
Mas é cato que perdura no desfavorável:
Pode não ser planta bonita mas gera flor,
Pode ter muitos espinhos mas dá água…
E talvez por isso,
Na última vez que te vi, olhei para ti,
E só senti amor.
Por isso, não um cumprimento de mão
Mas um abraço de despedida.
Pois circulava amor por ti apesar do silêncio
A paixão rodeava-me apesar da expressão.
E a única lágrima que deito por terra
Apenas faz florescer a seguinte dúvida:
Será que alguma vez me amarás
Sem incertezas?
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Se tu disseses que não me querias,
Seria muito mais fácil esquecer-te,
Serias mero passado em meros dias
E nunca mais voltaria a ver-te.
Algo parecido com isso tu me dizias:
"Eu não quero nem quero querer-te"
Mas dizias isso enquanto mentias
E o teu olhar verdadeiro: "quero ter-te".
Quantas são as tuas vis cobardias?
Seria tão difícil para ti abster-te
Se não tinhas para mim garantias
E a mim não querias prender-te?
Mas, porquê essas ideias tão frias?
Até tu vais conseguir entender-te:
Isso porque, pertença a mim sentias
E eu, um sentimento de pertencer-te.
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Será que eu não te sei amar,
Será que não sei amar de todo
Ao ponto de desejar a morte
O final oposto à vida e ao amor?
Será que sou eu que não presto
Quanto te infesto de beijos?
Protesto contra a lerda letargia
Sou apenas apatia sem energia
Para lutar por mim mesmo.
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Coloquei-te no meu único pedestal
E dáva-te a mão para não caíres
Esticava-a para continuares no topo,
Enquanto eu suava por ti e por mim.
Pegávamos na mesma caneta da vida
E escrevíamos com a mesma mão:
Quem arrumaria a cama, levava o lixo,
Quem lavaria a louça, lavaria o chão,
Se não quisesses trabalhar, só pregavas
Eu amaria ver-te na tua vida de sonho
E eu a acompanhar-te - se missionários.
Mas tu desgraçaste, chutaste o sonho
Pisaste a mão que te dava todo o apoio.
Fraquejei na impotência da tua nega
Sabendo que me amas por dentro
É mais dolorosa a pena, mais negra,
Quando sei que me desejas e rejeitas.
Não é por pena que quero que me queiras
Mas por decisão das tuas indecisões,
Eu amo-te mesmo que aos pisões…
Fica nesse pedestal, talvez com outro,
E talvez outro te segure intensamente,
Pois a mão que te apoiava foi amputada
E arrumado na gaveta do gélido gelo.
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Fizeste-me de refém do teu charme
Mantiveste-me cativo no teu pensamento,
Por minha natureza eu já não existia
Eu não era eu - apenas um clone de mim,
E mentia-me, dizendo que seria teu,
Porque assim o teu olhar seduzia,
E se havia algo claro neste mundo
Era isso o que mais claro me parecia.
E na minha mente construía-te
Onde em demasia, dia após dia, te aumentava,
Queria ter ainda mais espaço, mas já não havia
Dentro de mim a tua figura era um colosso mental,
Uma estátua monumental na mente construída,
E tinhas residência permanente em mim.
As energias falhavam, pois, tudo era escasso
E tu exigias o tributo certo em tempos incertos,
Os jardins há tua volta ficaram desertos
E pálidas as flores dos campos a leste,
Tudo era canalizado para ti, para ti,
E tu, infiel, tinhas planos piores
Demolir o que tinha construído
Mandar abaixo o erigido
E por ti mantido pelos donativos da persuasão.
Tanto esforço em vão jamais sonhado
Acreditando no teu charme luminoso,
Fiquei às escuras nos escombros,
Foi dinamite que ouvi explodir no meu peito
E que desabou a minha mente.
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