Surrealismo

.é mais provável não haver sentido que sentido de Todo 

2024

Tens mesmo de parar de escrever?
É uma obrigação de quem?
Que mestre te impõe tal insanidade?
Que professor te nega esse direito?

"Sábio, eu lamento,
Fui levado pelo mar da lua
E naufraguei em todas as rochas,
Comi salmão por 7 dias,
No oitavo, eu mesmo desovei
E adormeci na espuma desfeita…
Quem me dera saber continuar,
Mas não tenho tinta do choco…"

Daqui se vê três montanhas,
E em nenhuma nevará. 
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2022

Gotas de orvalho escorrem sobre as coroas da sinfonia
E não deixam o rei satisfeito
Não é suor, ou chuva, são gotas condensadas
Da evaporação do choro do reino.
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Enquanto o vento os sinos tocava
O cavalo sussurrava a confissão:
Menos rápido e mais lento galopava
Enquanto ele procurava prontidão! 
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Houve um poema que escreviNo velho mês de agosto,Foste o ventre que deu à luz o cardumeQue deu luz aos corais rosados.
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2021

E se o dia tivesse acabado
Logo a seguir ao sol se pôr?
Mas no iglo onde resido
O sol não desaparece,
Apenas me enlouquece
Gostava de ser arrastado no gelo
Pelo meu cavalo fiel
Mas ele tem cascos de vidro.
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Acordei de manha cedo ansioso e com medo
Ao fundo da sala: um carneiro negro
Contando um segredo que me esqueci;
Fiquei apavorado mas escrevi o enredo
Lendo ledo aquilo que escrevi;
E a existência já não era o fim
Apenas o inicio de um amargo azedo. 
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Tu assinaste o pacto
E eu fui testemunha,
A tua loucura era sórdida
Tu eras a sóbria loucura
E os teus cabelos voavam,
Eras a talismã da hipnose,
Ouro alquímico naufragado,
Escrevias prosa no joelho. 
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Acordei e os morcegos voavam
Os corvos lutam entre si na jarra
Pensei que já era de dia
Mas era a trigésima hora da noite 
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2020

No teu olhar não vejo o mar
Apenas um escuro, opaco delirante,
É nele vejo o lutar
De uma baleia com um elefante
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Desenvolvi o meu impulso na arte psicadélica assim que a vi e a ouvi falar comigo com as duas línguas que tem expostas nas duas laterais da boca. Talvez tenha explodido Neptuno e esse seja o vento que abana os cabelos roxos dela.
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Eu fui ao rio nilo caçar crocodilos e lá no meio do rio vi as tuas lágrimas; estavam perdidas como gelo nas arábias e perguntei se tu estavas por perto, mas não, e percebi que são tantas que algumas evaporaram e choveram no deserto. 
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A tua doce essência
É plantada em arroz doce
E o caule da flor raspou-se
Porque as pétalas são lindas.
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Falei com o sacerdote
Sobre o meu sarcófago:
Transportado por zebras
Anunciado por vespas,
E um balão de ar quente
Com um bufalo preto
Sobrevoando o objeto!
O sacerdote riu alto:
"Bufalos nesta zona?",
Chorei bastante!
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Eu naveguei mas naufraguei no riacho, mas eu acho que era um rio.
Sentia frio enquanto ia ao fundo e enquanto me afogava constatava: afinal era um lago!
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Por fim, eu nego que rego mas alego que navego no que reguei.
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Nas profundezas do infinito, o eterno nos espera com os seus lábios adoçados.
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Ah! Ah! Ah! Eu gritava na trovoada
Com as plumas da maldição;
Enlouquecido pela noite dourada
Eu era o relâmpago e o trovão!
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Quando da minha boca a nuvem sai, caiem os cavalos brancos que correm em volta do meu pé e choram as lágrimas em forma de paralelepípedos verdes.
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Cansado de soletrar, o vento avança
Entre as águas que palavras formam,
Ais e ais de marinheiros cansados
Navios afundados e sereias perdidas,
O meu professor de português disse:
Não adormeças sobre os Lusíadas!
Mas a epopeia já estava escrita
Era fogo doce e areia mui maldita,
Descrevia a fugaz ilha do pica-pau
Assando o porco no sujo tronco
As barbatanas derretiam no fogo,
E as letras estavam nas cinzas.
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2019

muitos vivem no deserto branco onde a areia é gelo
onde os emires se perdem no tempo branco e justo
onde o labirinto é o próprio revelo e paisagem,
e as dunas engolem os esforços dos aventureiros.
O frio é ardente semente plantada na atmosfera
onde nuvens não se formam apenas o eco do perdido.
Dentro desse deserto grita o gemido dela
De uma mulher enfaixada com vestes brancas
Com faixas brancas está mumificada e desesperada
procura o seu dromedário
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na quinta lua da meia noite
respirei mais forte a humidade
estava a suar de claridade
e desci com a cara na areia,
então eis um som de infidelidade
chamando o meu corpo contorcido
a escrava tinha o marido na cadeia
e queria que o ato fosse consumido,
eu que esperava pela figura na chama
olhei para o lado e fiquei rendido
ao que disse: "vem primeiro e clama
por este ser na chama desconhecido",
mas quando veio torceu o pé e caiu
ajoelhou, pegou fogo, ficou queimada
o seu corpo foi pela chama consumido.
E eu vi que a animada lua sorria
pois ela via: outra lua na terra.
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Eu vi-te anoitecer musa
Calada na sombra noturna,
Tu que antes eras claridade
E iluminavas as odes triunfais
Dos heróis que triunfaram
No Olimpo.
Júlio Cesar jejuou no sangue
Que te fez morrer na noite,
Oh musa ardente, inoperante,
Cavalga no cavalo de Napoleão
E acende o pavio da luz
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As águas do mediterrâneo flamejam com o petróleo dos cavalos ,
e as luzes ensopadas do sol, secam o estreito de Ceuta.
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2018

O oráculo que frequento,
Diz-me que Napoleão já partiu
Sobre as trombas de elefantes
E as tranças da pequena menina
Desfazem-se à sua passagem.
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Nascido tardiamente
Nem sai da placenta
E enforquei-me no cordão.
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Caminhei sobre um copo partido
Arranhei a minha pele e fiz corte,
Lá fora um unicórnio pedia ajuda
Enquanto ruminava relva azul
Mas não o pude ajudar na causa,
A boneca de porcelana partiu-se
E tive de ir colar as suas partes.
Enquanto o sangue sarava no pé
Via a lua ainda no céu da manhã,
Esperando que a chuva chegasse
E regasse a minha linda relva azul
Para que os cogumelos cresçam
E apareçam de novo na primavera.​______________________________________________________________________

Já não quero viver por um motivo: o meu único motivo de viver, morreu.
Agora sem a força que me controlava, entro em colapso físico e mental
Sempre sem dormir não a esqueço da minha memória a longo prazo,
Ofereci cada uma das minhas delicadas falangetas aos meus cães
Como tal já não posso acossar com sucesso a minha pele inflamada,
Não me resta mais nada do que me atirar da varanda e cair no canteiro.​______________________________________________________________________

A carruagem cai pela inercia
Nos ténues carris de ferro
Que por sua vez subjugam o solo.
Mas o rio ri-se desse perecível poder
Quando divide e subjuga as terras
Forçando ao içamento da ponte
Onde os carris são subjugados
Pela natureza.
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A carruagem anda enquanto eu subindo
Ao seu telhado retiro a camisa enquanto
Louco abano-a molhada pela forte chuva,
Da outra margem caiem as árvores com
Os raios que a intensa trovoada criou,
Eu apenas iluminado pelos relâmpagos
Salto e embato na terra e na lama fresca
Progressivamente oiço os funcionários
Gritando e rindo enquanto acrescentavam
Mais lenha na fornalha da locomotiva
Que se locomove sem um rumo certo
Pelo incerto caminho da sinapse. 
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Enquanto cai a torre do relógio
Eu corro ao teu encontro para te salvar,
Enquanto cai a torre do relógio
Eu corro na tua direção com velocidade,
A sombra já interpela a tua antiga sombra
Os ponteiros caiem para as seis e meia,
Eu corro dentro de uma garrafa de rum
Enquanto o relógio a tapa com a rolha
E agita o seu interior para me travar.
Enquanto a torre derrete no Sol abrasador
Eu velejo sobre a bebida do oceano
No monóculo vejo-te a ser salva por mim,
Remo para terra enquanto choro álcool,
Olho para o fundo da garrafa onde estou lá
No meio da bebida olhando para mim,
E tu prestes a perecer pelo relógio que não pára.
Eu corro para te salvar,
Mas não consigo largar
A embriaguez que me prende.
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Entre as entranhas da floresta
Sai a flora humana da tua figura,
Raízes crescem no peito,
O meu coração palpita no tronco
Onde te deitas como uma pomba.
As tuas asas abanam a seiva de
Que me alimento nas montanhas.
Deitado sob as montanhas moles
Adormeço ao som do teu encanto
E o canto dos girinos nos faz dormir.
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Nenhum pássaro canta
Pois mecânica é a floresta
No teu mecânico peito.
A fauna é em números binária
E hereditária sendo transmitida
No teu ventre por mim fulminado.
Todo o feto é bactéria tecnológica
Existe vírus no fitoplâncton morto.
E eu apenas te amo porque também
Sou um verme perecível. 
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E eu vou dizer-te porque estou a dizer isto a ti
Porque quando apareceste eu não reparei,
Quando tu gostavas de mim eu não gostava
E até desprezava as tuas ações apaixonadas.
Hoje arrependo-me porque estou no lodo
A sofrer na pele o que é a mais severa dor,
Tenho dolorosas cicatrizes de ser traída
Mas apesar de tudo isto o que mais me doí
É saber que "traição" em ti não existe.
Se tivesse escutado as tuas palavras,
Se ao menos te tivesse dado uma oportunidade,
Hoje não estaria aqui caída na lama
À espera que alguém me dê a mão e me limpe.
Só queria ler um dos teus românticos poemas
Onde me tornavas princesa do teu mundo,
Onde tudo era amor, verdade, paixão.
Agora só me resta pedir desculpa;
Só me resta morrer, porque soube,
Que já elegeste a tua eterna rainha,
E essa, jamais serei eu.
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Enraiveci assim que soube a verdade
Ladrei como um cão feroz e zangado
E até mordi a minha perna por engano.
Amputei uma unha com os dentes
Empobrecendo o dedo que me coçava
A parte superior da minha careca.
Agora não consigo aliviar a comichão
Provocada pelo interior do meu cérebro
Quando ele choca um novo neurónio.
O ovo racha e o corpo sai para fora
Nascendo assim raiva incontrolada
Pelo teu estado degradado e enganoso.
Eu não sabia a gravidade do teu estado
Que tendo tu um novo namorado
Dizias que me amavas para me ver sofrer.
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Um tubarão estava a ser enforcado
Em plena praça pública,
Estive lá e vi tudo.
Devo dizer que eu era a corda
Enrolada no seu pescoço,
A mesma que o pescou em alto mar.
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Ás nove e meia da noite
Quando o seco sino apenas
Balança o pêndulo uma vez,
Eu planto no meu belo jardim
Belas flores de matiz preta:
Tulipas, malvas, orquídeas,
E tento ser muito rápido
Ao destapa-las do saco
Que as tapa no pleno dia,
Para que agora, de noite,
Aproveitem ao máximo
A luz da lua minguante.​______________________________________________________________________

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